- Padre Francisco José de Moraes, 1855. Vigários de Araçariguama
alias Morais
1. O padre Francisco de Morais
Não cheguei a conhecer pessoalmente o padre Chico, o qual, segundo tradição da família, ordenou-se sem vocação, apenas para satisfazer os dese-jos da mãe, que fazia o maior empenho em ter um padre na família. Talvez por isso mesmo, esteve, depois de ordenado, sem ordens por muito tempo, residindo com a família no sítio da Samambaia. Só mais tarde aceitou a vi-gararia de S. Roque, vaga com a morte do padre Manuel Joaquim Barbosa. Foi dedicado e exato no exercício do seu ministério, esmoler e despreocupa- do de interesses pecuniários, tanto que, segundo diziam, foram encontrados em livros de sua estante, depois de sua morte, valores em moeda-papel. No retraimento em que vivia, não se preocupava com a política e talvez por isso caiu no desagrado do chefe local de então, o barão de Piratininga, que, segundo crença da família, o maltratava com mofinas e notícias impertinentes em jornais de S. Paulo, escritos que, sempre anônimos, eram atribuídos a determinada pessoa, serviçal do barão, e ao qual designavam, os da família, simplesmente por "o testa de ferro".
Não é meu intuito reavivar antigas malquerenças, que iriam magoar hoje a pessoas que nenhuma responsabilidade têm pelos atos de seus antepassados; por isso, nada mais direi. Enfim, austero mas simples e caritativo, o modesto sacerdote era estimado de todos. Mas possuía um traço característico: era obstinado. Depois de formar opinião sobre qualquer assunto, ninguém dela o demovia, pelo que deixou este provérbio: "teimoso como o padre Chico".
70 | Parte 2 - Capítulo IX
Livro São Roque de Outrora
A Igreja de São Benedito
A construção da igreja de S. Benedito foi iniciada pelo padre Chico (Francisco José de Morais), o nono vigário da paróquia. Não consegui dados precisos sobre a data do começo das obras e o montante das despesas. Na rebusca que pude fazer na Cúria Metropolitana, graças à gentileza do reverendo secretário e do jovem sacerdote Paulo A. C. Freire, diretor do arquivo, aos quais aqui re-novo meus agradecimentos, nada encontrei a respeito. É que falta no arquivo o segundo livro do tombo, que é o correspondente ao tempo em que serviu na paróquia o padre Chico. Penso entretanto que as despesas foram custeadas pelo próprio vigário que, como indiquei no Capítulo IX, era rico, desambicio-so e modesto; e trarei adiante um testemunho em abono deste conceito.
...
Foi numa ocasião destas que se deu com ele o fato geralmente repetido, e que servia como documento indicativo do seu feitio obstinado e pertinaz.
Começava ele a subir, no corpo da igreja, uma escada de mão mal segura aos andaimes, quando um carpinteiro lhe observou:
- Não suba, seu vigário, que a escada pode cair.
- Não cai, respondeu ele.
- Não suba, seu vigário - insistiu o homem -; a escada não está firme.
- Não cai.
E já havia galgado alguns degraus, quando veio abaixo com a escada.
Não se machucou porque, por felicidade, havia por baixo um monte de areia. Levantou-se, sacudiu a batina e saiu murmurando:
- E caiu, viu? E caiu, caiu!
Isso confirmava a opinião geral que ficou como provérbio: "teimoso como o padre Chico".
354 | Parte 13 - Capítulo L
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Os Vigários de Araçariguama
25 - Padre Francisco José de Moraes, 1855.
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